Não se escandalize!
Em reunião recente com colegas, meu eu-lírico e eu refletimos sobre a subjetividade da "Pós-Modernidade". Comentou-se que há alguns anos os indivíduos não eram assim tão individualistas. Mas quê? Desde quando? Afinal Machado de Assis já falava em mudanças de alma e coisa e tal.
No conto O Espelho Machado nos dá uma pista do imaginário de sua época. O conto narra a história de um alferes (narrador-personagem) que depois de nomeado vai visitar sua tia, vestido com a farda. Quando ele chega, é elogiado pelos escravos e pela própria tia. Esta no dia seguinte precisa viajar e o alferes fica responsável pela casa, os escravos, todos, aproveitam para fugir e quando o alferes se vê solitário já não consegue ver sua própria imagem no espelho antigo que sua tia pôs no quarto do jovem como honraria. Apavorado o alferes veste seu uniforme e passa novamente em frente ao espelho e percebe seu reflexo. Ah! Que descoberta! Ele só reflete quando está fardado.
A certa altura o narrador menciona o caso de uma senhora que possui várias almas. O caso do alferes não é o único. A tal senhora possui almas muito distintas umas das outras, no inverno ela é de um jeito, no verão de outro, e assim por diante.
Ora! Quem quer que leia este conto saberá que Machado está falando de modismos e da maneira como nos reconhecemos nos elogios recebidos. Ele nos apresenta uma nova teoria sobre a alma humana.
Acontece com você?
Acontece na modernidade. Reflita sobre a forma como seus amigos aparecem nas fotos do Orkut, os beicinhos, as roupas, a cor dos cabelos... Modismos? Mas e a música que você escuta? Aquela banda que você adora foi você que apresentou para seu amigo, ou foi o contrário.
Calma!!! Não fique nervoso. Reflexo e reflexão.
Aceitar que estamos mudando a mais tempo do que imaginamos pode ser a primeira fase da Pós- Modernidade com sua total subjetividade e com a inexorável mudança de alma. Sei e admito que esta seja um presente Divino. Mas sobre isso falaremos em outro momento.